Sinal dos tempos (E o tempo passa) – Crônicas do Brasileirão (33/38)

Sinal dos tempos (E o tempo passa) – Crônicas do Brasileirão (33/38)

Inter 2×0 Fluminense: o Colorado fechou os 6 pontos em 6 na semana com dois jogos em casa e manteve outra vez a sequência invicta no Brasileirão

Rafael Borré chegando com tudo para abrir o placar no Beira-Rio [08.11.2024]
(Foto: Internacional/divulgação; Disponível em: flickr.com)

A primeira vitória do Inter sobre o Fluminense desde o returno do Brasileirão 2022 foi um sinal dos tempos. Não de uma cura das feridas causadas pela semifinal da Libertadores do ano passado, mas de que a cicatriz finalmente começou a secar e cedeu ao fluxo que move a vida. Quando o tricolor Nelson Rodrigues observou o urubu de Edgar Allan Poe dizendo um sonoro e profético nunca mais aos ingleses depois da final contra os alemães em 1966 – desempatada após uma bola sobre a linha na prorrogação -, o vermelho de Bobby Charlton e companhia limitada quis trazer esse gesto de separação para o primor alvirrubro. Era necessário virar as páginas que foram dos amores aos dissabores e que estavam incomodando a existência do clube e de sua torcida nesses últimos anos.

O Inter disse nunca mais para Mano Menezes. Mesmo com o vice brasileiro em sua chegada e a ousadia de sonhar com coisas maiores depois da noite louca contra o Colo-Colo, além de uma sequência de treze jogos de invencibilidade derrubada nesta rodada, a lógica do escorpião tomou conta da então “vida nova” dele. Foi a gota d’água que separou em definitivo o zagueiro riopardense e o time colorado, antes com o ranço das últimas coletivas ainda virando uma bigorna para o clube.

O Inter disse um nunca mais para aquele Fluminense. Quem viu o time que fez história no Beira-Rio e no Maracanã nos dois últimos jogos da Libertadores do ano passado simplesmente não entende como um time que tinha aquela capacidade virou uma piadinha ambulante. Keno, Samuel Xavier, John Kennedy, em especial Germán Cano, que fez o gol que nos eliminou e outros 40 na temporada passada mas…que virou uma marionete empoeirada, como caído em encanto.

Além de tantos nunca mais, o Inter sob a batuta de Roger Machado demonstra sempre querer mais. Insaciável como uma voadora de centroavante tal qual a de Rafael Borré que completou para o gol, já endemoniado na base da gana após ter seu tento de cabeça anulado pelo VAR na casa dos milímetros no primeiro tempo. Tudo devido a um início de jogada suntuoso no lançamento feito pelo zagueiro Victor Édouard, jovem francês que joga no Inter desde 2022 e, que se fosse brasileiro merecia convocação à Seleção Brasileira, algo que Dorival Júnior lamenta profundamente. Com isso, o Fluminense viu a vida como ela é no Beira-Rio e o Inter fez uma atuação feliz também com Bruno Tabata, Alexander Bernabei e Alan Patrick bailando bem no campo nos embalos de sexta à noite.

Pode não ter sido o melhor dos desempenhos durante 90 minutos consecutivos, mas foi dentro da média das pregações de Roger Machado, cuja retórica faz se assemelhar à Antônio Vieira usando de seu bradar reto e de sua voz para combater os bons combates tanto no futebol quanto na vida nas oportunidades que são lhe dadas nas coletivas. Porém, a língua e o cérebro dos rivais locais tiveram um “estalo de Vieira invertido”, pois ao ouvirem seu ídolo e ex-treinador, e não aceitarem seu bom trabalho no lado vermelho do Rio Grande, desnudam uma ignorância perniciosa, seja tantos dos torcedores ou dos influencers quanto de certos dirigentes, que de tão medíocres, vêem nos microfones a razão de suas existências.

Foi com base na Leverkusen mentality que o Inter matou o jogo com Bruno Henrique também após um cruzamento rasteiro de Bernabei que daria inveja do outro lateral argentino que recentemente saiu do clube. O 2 a 0 era a leitura mais correta de placar possível para um Inter que queria se livrar de fantasmas contra “times menores” e garantir presença direta na disputa pela Glória Eterna em 2025. E os números gritam o bom desempenho colorado: 14 jogos invictos no Brasileiro e três meses sem perder. Mesmo faltando cinco rodadas, é notório que o Inter fez um ano de dignidade depois de uma crise futebolística de 60 dias entre as eliminações nas copas, além do inferno de bilhões de teses e das sombras da destruição da nossa catedral e de nosso estado que causa tristeza só de lembrar. De cabeça erguida, voltamos a orgulhar o nosso povo e isso importa.

Entre tantas teses mortas e teses vivas (além das zumbificadas), reforço que el tiempo passa e ajuda a curar as nossas feridas, por mais profundas que sejam. Mas para saudar a chegada desta vida nova, tudo isto torna-se um imenso prólogo em preparação para este mundo novo que precisamos conquistar no Gauchão 2025. Para isso, é necessária a vaga direta na fase de grupos da Libertadores e a cada dia nos aproximamos mais e mais dela. 

Tiago Pereira Lumertz

chevron_right