Injusto seria não sonhar—Crônicas do Brasileirão (35/38)

Injusto seria não sonhar—Crônicas do Brasileirão (35/38)

Inter 4×1 Bragantino. No penúltimo jogo do ano, o Inter conquista a 16ª partida de invencibilidade consecutiva em goleada e mantém vivo o sonho do título brasileiro

Da esquerda para a direita: Rafael Borré, Bruno Henrique, Bruno Tabata, Alan Patrick e Wesley comemorando o primeiro gol do Inter no Beira-Rio, contra o Bragantino, marcado pelo camisa 10 colorado [24.11.2024] (Foto: Internacional/divulgação; Disponível em: flickr.com)

Um cenário perfeito se apresentou no estádio Beira-Rio na tarde de domingo (24) em Porto Alegre. Céu ensolarado, num calor de 30 e tantos graus (fora um certo e incômodo mormaço) e com o horário mais nobre da escala dos jogos de futebol aqui no Brasil: domingo, às 16 horas. Um fato raro na vida vermelha ao longo dos anos por conta de mumunhas das detentoras dos direitos televisivos do Brasileirão, bem acompanhada por CBF e Conmebol cujo acertaram seus horários e calendários pela última vez para com a satisfação do torcedor ainda na época do Mesozóico.

Era um clima muito pacífico, muito ordeiro. Quando as coisas caminham assim, não obstante o torcedor começa a pensar “hum, tem algo de errado por aqui”. Se, como diria certo sábio de Cachoeirinha – de munhequeira e meias encarnadas -, que nós colorados olhamos para a felicidade de soslaio, um jogo contra o Bragantino que nem a Red Bull dá asas, não para a cobra da mente poluída pela tragédia vindoura apenas, mas também com qual grau de crueldade há de nos apunhalar. É uma crença negativa que nem os especialistas são capazes de converter na vida da gente. Pelo menos no caso do fim de semana do conglomerado austríaco, a vitória não veio pelo campeão paulista de 1990 e sim através do holandês (voador) Max Verstappen, tetracampeão da F1 após o GP de Las Vegas.

Saindo dos cassinos e voltando à Padre Cacique, o Inter passou por uma certa provação no primeiro quarto de jogo. Primeiro, pela vantagem do gol cedo na primeira grande jogada do time alvirrubro quando Wesley cruzou para Borré, que foi derrubado por Juninho Capixaba e, apesar de Cleiton acertar o canto, Alan Patrick não desperdiçou. Porém o time parou de criar porque os comandados de Fernando Seabra também entenderam que (ainda) não era o momento para desesperos, apesar da 18ª posição na tabela.

Foi depois de um chute de rosca que miraculosamente não virou gol contra com Rogel, que Lincoln cruzou no primeiro pau e o mesmo Capixaba acabou empatando. Ali estava armado o início de um cenário catatônico para o Internacional. Todavia, sob a batuta de Roger Machado esta não é nem de longe a realidade quando o time está em desvantagem e/ou em situações complicadas de jogo. Aumentando o nível da criação de jogadas, em cobrança de lateral que Borré buscou a bola para trabalhar com Wesley, que de letra emendou para Bruno Gomes devolver ao colombiano e fazer o 2 a 1. O que rendeu uma continência generalizada nas arquibancadas, com o próprio Santos Borré de frente ao público fazendo sua típica comemoração, no que é uma das grandes imagens do 2024 vermelho.

O problema é que aquela agonia medonha continuava pairando no ar. Depois do intervalo o tempo passava, o Bragantino começava a se assanhar no jogo. As trocas reanimaram o que se via em campo pelo Colorado, mas antes do tilt final com o 3 a 1 no gol de cabeça de Wesley – o décimo dele no Brasileirão 2024 -, Enner Valencia cabeceou uma na trave direita e Wesley arrancou e arrematou na trave esquerda. Porém depois do gol, com um Bragantino entregue, um Inter empolgado e 42 mil colorados comemorando mais uma vitória, tudo isto foram ingredientes para a receita que Gabriel Carvalho concluiu ao chutar e rebater em Wanderson para fazer o 4 a 1 e coroar a grande vitória vermelha.

Na média, a atuação do Inter foi boa, apesar dos engasgos na formação dos volantes com Fernando e Bruno Henrique. Até porque o Bragantino atacou fortemente no “alinhamento planetário dos Brunos” (Gomes, Henrique e Tabata) no lado direito do campo e causou um desgaste complicado que afetou o time no primeiro tempo, até três quartos do jogo completados.

No mais, o que nos interessa até o jogo de domingo que vem (1º/12), é essa loucura coletiva de cometer contas e mais contas além de tentar buscar o futuro perfeito rumo ao título brasileiro. É uma chance mínima? É. É improvável? Claro. Porém o Inter saiu de um 16º lugar lá naquele longínquo 14 de agosto e chegou em um 3º lugar (mesmo provisório) quase cem dias depois. Foram 43 pontos em 18 jogos.

Era uma distância de 21 pontos da liderança e hoje são 5. Faltam três rodadas? Sim, faltam três rodadas. Mas ainda não há nada proibitório matematicamente até o jogo contra o Botafogo no Beira-Rio em caso de vitória contra os rubro-negros no Maracanã. Errado e injusto seria se a torcida colorada não sonhasse. Se não ganhar, é do jogo, a mira se volta para o Gauchão 2025 e leva-se a corneta alheia que é exatamente a mesma há quase uma década. Do contrário, é a consagração de uma história que já é grandiosa e merece os aplausos da torcida deste colosso do futebol que é o Sport Club Internacional.

Tiago Pereira Lumertz

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