Primeiro passo – Gauchão 2 em 1 (08/03/2025)
Grêmio 0x2 Inter. Em grande atuação na Arena, o Colorado abriu vantagem na final do Gauchão e aumentou sua sequência invicta no clássico

O primeiro passo foi dado. Johan Carbonero e Alan Patrick transformaram a Arena Portoalegrense em uma espécie de Bastilha a ser derrubada, tal qual os sans culottes o fizeram em julho de 1789. O clima era óbvia e extremamente nervoso até o apito inicial do GreNal 445 e em um ambiente de fumaça azulada da festa da torcida gremista tentou levar as dimensões visíveis do palco para uma imagem em preto e branco pela televisão. Queriam teleportar o presente para a sequência do hexa estadual deles de 1962 a 1968, porém “sintonizaram” sem querer querendo em 1969.
Se a fumaça foi se dissipando tal como a das “ervas medicinais” do festival de Woodstock Braian Aguirre foi um Neil Armstrong que teve a coragem de sair da Apollo 11 vermelha para romper a defesa do Grêmio. E deu um pequeno passo para o homem e um grande passo para a coloradagem, junto de um Vitinho emulando Buzz Aldrin para Carbonero concluir a grande jogada honrando a 7 de Valdomiro e marcando o primeiro gol do jogo. Saiu como se tivesse feito nada demais o colombiano, mas a alegria coletiva andou junto com a seriedade do tamanho da decisão em mãos.
Não obstante, pouquíssimo tempo depois, na sequência em grande jogada de Carbonero e Bernabei, o lateral argentino deu um passe em meio a um tapete vermelho (sic) que a zaga gremista deixou estendido em forma de buraco para que Alan Patrick arrematasse e terminasse em uma grande finalização que Tiago Volpi nada pode fazer. A maioria dos 51 mil gremistas (e bolsos muy amigos vindos do Uruguai) presentes estava emudecida como, de forma inédita, não havia acontecido na Arena em doze anos de clássicos GreNais por lá. Um silêncio que contrastava com a alegria da torcida visitante que sabia muito bem do tamanho da vantagem. E que quase fez os pensamentos intrusivos de Alan Patrick vencerem incentivando-o a derrubar a bandeira de escanteio na comemoração, coisa que ele bem evitou.
Se por um lado, a empolgação de Alan também era presente em um Vitinho que foi alvo de uma garrafa da que acertou a mão de Enner Valencia, a raiva da torcida adversária – em especial a Geral do Grêmio no setor onde viram o Inter marcar duas vezes – também virou duas agressões que não podem ser passadas batidas. A primeira, um rojão estourado próximo aos jogadores do Internacional após o segundo gol. A segunda – e mais latente aos olhos do público – foi o acerto de uma outra garrafa com pedras no rosto de Rafael Borré. Uma atitude intempestiva e canalha que vem na não-aceitação da derrota e que poderia ter causado um incidente muito mais sério e de consequências para os jogadores e, em último caso, aos torcedores.
Não fosse a parada técnica sob o calorão portoalegrense logo após o 2 a 0, velocidade impressa pelo Inter na metade do primeiro tempo poderia ter manejado o teletransporte cronológico do Inter para os clássicos de 2014, 2008, 1997 ou ainda 1954. E se o mesmo Café Aguirre não tivesse parado no arqueiro gremista após corte humilhante em Wagner Leonardo, provavelmente algum desses tempos teria sido o destino. Porém o terceiro gol nem com ele, nem com Wesley na etapa final, acabou saindo. E o destino continuou com o fluxo do tempo presente no ano jubilar de 2025. De todo modo, após os gols o Grêmio esteve nas cordas, abatido em mais um clássico que poderia ter terminado em uma saraivada. Um panorama pra lá de comum na história recente do GreNal. Já cabem em uma mão inteira os jogos que o coirmão escapa de tomar uma goleada colorada por diversos motivos, pois quem dita as ações é o Internacional e ponto final.
Na etapa derradeira, o Inter não tinha como manter a entrega física que fez nos primeiros 45 minutos e sofreu mais. Porém, Anthoni não teve maiores dificuldades dada a precisão de Vitão e Victor Gabriel na zaga fazendo um jogo bom pra caralho (sic) e com Fernando e Bruno Henrique garantindo a marcação no meio-campo que jogava mais, melhor e há mais tempo no confronto. Bernabei teve poucos momentos de brilho mas a entrega dele na marcação sobre o jubilado Cristian Olivera foi fundamental para a vitória nos domínios rivais¹.
Enner Valencia, Ronaldo, Gustavo Prado e Wesley deram pro gasto. Não vou dizer que houve atuações individuais ruins, pois todos – incluindo Luiz Otávio e Rafael Borré – não pouparam esforços dentro de campo. Todos os presentes fizeram um esforço colossal para empurrar o time rumo a uma vantagem que nos deixa próximos de levantar o troféu no Beira-Rio no domingo que vem (16). A surpresa vermelha na relação de Rochet aconteceu, mas ele continuará como reserva de Anthoni. Os que estão no departamento médico e contratados não-inscritos no Gauchão compareceram também em sua maioria na preleção. Sabem todos eles da importância desta taça.
É um grupo com espírito aguerrido que espelha a hombridade de seu comandante Roger Machado. Sob as bênçãos do Chefe seu Osmair Pereira da Silva, funcionário histórico do clube falecido na última sexta-feira (7), o nosso professor vestiu a camisa com símbolo antirracista do Internacional e demonstrou sua luta e o orgulho pela sua cor. Não apenas por si, mas por rapazes como Luighi, jogador do Palmeiras, que foi chamado de “macaco” por um filhodaputa que usou seu próprio filho pequeno de escudo e cusparado por ele e mais outros desgraçados atrás da cerca separando arquibancada e campo na Libertadores sub-20, no Paraguai.
O gesto de Roger ganha ainda mais latência, porém, quando na casamata ao lado está o auxiliar técnico do Grêmio Leandro Desábato, que havia proferido ofensas de teor racista semelhantes as citadas ao jogador Grafite em 2005 pela Libertadores – jogando pelo Quilmes contra o São Paulo no Morumbi – e recebendo voz de prisão pelo crime cometido ao final da partida -. Tudo isto com poucas intervenções mais acaloradas da imprensa gaúcha quanto a isso em sua presente chegada junto à comissão técnica de seu primo Gustavo Quinteros no coirmão. Foi mais um ato maiúsculo e de coragem de Roger, que sempre havia sido subconscientemente (sic) preterido e subestimado nos arredores do Grêmio enquanto jogador e treinador, também por conta deste aspecto na comparação para com outras figuras e personalidades históricas.
Por mais que a vantagem seja excelente e o clube esteja preparado para romper com o jejum de títulos, é necessário desde já manter a cabeça no lugar. Urge se preparar para ganhar e esperamos que por volta das 18h da tarde do domingo 16 de março de 2025, estejamos comemorando a 46ª taça gaúcha de nossa história. Um título importante na retomada da senda de vitórias. Com este primeiro passo, andamos mais firme para confirmar o resultado da ida em nosso torrão, no Beira-Rio, para fazer desta terra gaúcha ainda mais colorada.
Tiago Pereira Lumertz
¹ carece de fontes